Um dos assuntos mais abordados sobre a infância ultimamente é a importância do brincar, do tempo para ser criança, para fazer nada, sentir o tempo, criar ou só olhar o céu, a rua, as árvores, os outros, estar ao ar livre (!!!!), estar com outras crianças…
Tempo para ser dono do seu tempo, para não ter ninguém dirigindo suas ações, ser criador e não executor.
Muito se fala sobre a agenda cheia das crianças. Com 4 anos, além do período na escola, eles fazem várias atividades extras. Agenda de executivo na primeira infância, sabe? Muitas famílias preocupadas com isso, priorizam uma ou outra atividade extra. Assim, cada uma escolhe o que acha importante para esse momento da vida e procuram deixar uma parte do tempo da criança livre. Afinal, eles terão muitos anos pela frente para desenvolverem certas habilidades e podem esperar um pouco mais.
E quando você tem um filho com necessidades especiais?
No meu sonho de mãe ideal, aquela que eu sonhava ser antes da minha filha nascer, eu sempre tive a convicção de que, além de escolher uma escola que respeitasse o tempo da infância, minha filha teria todo o tempo para si, para olhar o céu, para fazer comidinha de areia…
E as aulas extras? Como eu sou professora de inglês da Ed Infantil, aos 3 anos ela poderia começar comigo, mas, e as outras atividades? Natação de repente? De preferência ao lado de casa, para ir a pé e nada mais.
Mas a verdade é que estou me deparando com uma outra realidade.
Eu não posso simplesmente escolher uma ou outra atividade. Minha filha precisa fazer fisioterapia, terapia ocupacional e fono terapia. Não posso dizer, “vai fazer fono e depois mais para frente faz fisioterapia”. Não posso. Ela precisa de todas elas. Precisa. O ideal seria que fizesse duas vezes por semana cada uma delas. É o que as terapeutas dizem. Daí seriam 6 dias na semana. Imagine, além de ir para a escola 5 dias por semana, num período de 4 a 5 horas, fazer atividades extras 6 dias na semana?
Bem, a verdade é que ela faz terapias 3 vezes por semana, uma de cada, e mesmo assim é bastante. Também temos consultas médicas frequentes com os especialistas que nos acompanham. De tempos em tempos, além dos 3 dias de terapia, encaixamos na semana uma consulta médica. Exames esporádicos. Aos sábados, natação. Sem contar o tempo de ir e vir no trânsito da cidade de São Paulo.Olha aí a tal da agenda de executivo!!
Que vida é essa que estou dando para minha filha? Uma vida dentro do carro? Aos 2 e 3 anos de idade, tem que acordar, tomar café. “Vamos! Temos que sair!” Vai para terapia, volta da terapia, almoça, vai para a escola, volta da escola. Entra e sai. Hora marcada.
Meu coração fica apertado quando paro para refletir sobre tudo isso. As terapias são fundamentais para minha filha ter uma vida plena (sem dúvida!). Porém, uma vida plena vai além dessa agenda toda de hora marcada na primeira infância!
Isso porque no nosso caso não vivemos o pior dos cenários. Imagine aquelas crianças que têm outras complicações, que precisam ser hospitalizadas com frequência, que sofrem com problemas de mobilidade.
Então a minha pergunta é: qual o horário que as crianças especiais têm para serem crianças? Que tipos de experiências estamos oferecendo para elas? Quanto tempo ao ar livre e com outras crianças elas estão tendo? Existe espaço para elas aprenderem, dentro de suas limitações, o que é ser criativo?
Ainda não sei se vou ser bem sucedida em resolver essas questões. Daí vem a arte do otimismo e da criatividade, que devem ser praticados diariamente, procurando soluções e equilíbrio. De repente seria tentando ter mais qualidade de vida, aproveitando as coisas simples…
P.S.: A natação é uma paixão da Maitê e nós conseguimos ir a pé! (ufa!)